domingo, 19 de setembro de 2010





Título: O tigre e o camaleão - O acordo de uma semana



Vivia olhando para baixo. Não queria que ninguém percebesse a minha existência.


- Oba! Estamos na mesma sala de novo! Que legal! A gente vai poder viajar junto nas excursões! - minha amiga Bella disse.

- Alice! Você tá com a gente também! Que bom né? Eu estava preocupada de ficar sozinha. - Rosalie, minha outra amiga, falou.

- Eh... É! Que bom...

Mais um ano começou. Por que existe essa de mudar de sala? Essa época do ano é um sofrimento para gente acanhada como eu. Minto... Ainda existe uma coisa pior que isso... O 'terror'...

- Oi gente! Me chamo Ronald Watson. Podem me chamar de Ron, Rony ou como bem entenderem. Meu hobby é escutar música clássica.

- Háháhá! Que coisa de velho.

Apresentação. Esse é a pior parte do ano. Olha lá! Como eles conseguem falar com tanta calma na frente dos outros?

- Agora é a vez das meninas. - o professor anunciou.

Oh, não! Estou ficando nervosa! Será que ninguém mais tem medo? Falar na frente das pessoas? Isso é coisa do outro mundo! Ai estou me sentindo gelada, estou suando frio, minha cabeça está zonza, minhas mãos tremem...

NÃO DÁ! NÃO DÁ! NÃO DÁ!


Por que eu preciso me apresentar para a sala? Quem precisa saber quem eu sou?

-Próxima. Alice?

Tentei me levantar da cadeira, mas acabei caindo. É claro que as pessoas riram.

- Ficou nervosa de novo? - perguntou Bella.

- Vo... Você tá bem? - Rose me ajudou a levantar.

Respirei fundo e fui para frente da sala.

- Sou Alice Brandon. Mui... Muito prazer.

Agora, acabaram todos os rituais chatos de começo de ano.

- Muito bem! Você conseguiu. - Rose me parabenizou.

- Obrigada. - É só continuar quietinha que todos vão me esquecer.

No ginásio, eu fui chamada de 'feia' pelo menino que eu gostava. Desde então, não consegui mais levantar o rosto.

- Escuta - Rose falou - A pessoa que senta do seu lado ainda não apareceu desde o começo das aulas, né? - olhei para a carteira vazia do meu lado. - O que será que aconteceu.

- Ah!! Quem senta aí é o Jasper Whitlock, certo? É bom mesmo que ele não venha. Eu já o vi com a galera barra pesada! O cara mete medo, heim? Cuidado. - Bella comentou.

- Hã? Sério? - nossa, que medo de pessoas assim.

Na quarta aula o professor apareceu para fazer um comunicado e trouxe um novo aluno.

- Por motivos familiares, ele está voltando às aulas só agora. Esse é o Jasper Whitlock, colega de sala de vocês.

Deve ser horrível chegar na sala depois. Coitado!! ( fica nervosa tomando as doresdo outro)

- Prazer - Jasper falou com uma voz séria.

Ele andou com um andar firme e se sentou na cadeira. Ele emanava uma aura negativa e todos ficaram pasmos com ele.

- Por favor, pode continuar a aula. - falou, depois de observar que todo mundo olhava ele.
Só posso dizer uma coisa: que medo!

Todas as pessoas da sala ficaram assustadas. Todos olhando curiosos. Mas ele não está à mínima! Como consegue? Se fosse eu, não suportaria esses olhares sobre mim! É melhor eu não me aproximar dele.

E isso aconteceu na primavera.

Como eu voltei a agir de forma extremamente discreta, ninguém mais olhou para mim. O que não acontecia com Jasper. Apesar de ser tão calado e quieto quanto eu, ele não deixou de chamar atenção de todos, como uma figura misteriosa e amedrontada.


O tempo passou...

O verão de foi...

O outono também e chegou o inverno.


-Xi... Já está escuro! No inverno é só atrasar um pouco que fica tudo escuro lá fora. - falei, trancando a porta da biblioteca. - É nessas horas que não é legal ajudar na biblioteca... - Estava tudo escuro e eu estava ficando assustada. - Que medo! Eu vou é voltar correndo para casa.

Saí em disparada quando esbarrei em alguém.

- Aii, ai, ai, ai - essa tinha doído e meus óculos caíram.


- Você está bem? - uma voz me perguntou.

Ai, que vergonha! Estou em cima da pessoa!

- Hã? Ah, sim, estou bem!

Quando fui levantar o rosto vi que havia um homem me encarando.

- MMMMMMEEEE DDESCULPA!

Jasper Whitlock! Ele vai me matar! Tão nova e já vou morrer. Nem terminei os estudos.

Ele colocou a mão no meu ombro. Ai, ele vai arrancar minha cabeça!

- Não se machucou mesmo?

Hã? Será que ele ia se comover?

- Os meus óculos... - comentei, sentindo falta deles.

- Hã? Seus óculos? Eles caíram? - Jasper perguntou. - É melhor procurarmos antes que...

CRECK!


Não gostei desse barulho. Estou com um mau pressentimento. Jasper acabou pisando nos meus óculos.

.
.
.

- Xi...! Isso tá feio. - falou o senhor da loja de óculos e lentes de contato. - A armação também está danificada. E, infelizmente, estamos sem estoque de lentes prontas. Lamento, mas vai demorar uma semana para os óculos novos ficarem prontos.

Senti minha alma ir embora. E agora? Eu sou cega sem meus óculos! Como vou sobreviver sem eles? E sem óculos... Eu vou me sentir completamente pelada!!

- Me desculpe! - Jasper falou. - Foi pura falta de atenção minha. É tudo culpa minha, sinto muito.
Nossa, eu não esperava essa reação.

- Imagina! Não foi isso... Fui eu que estava correndo. E você até pagou meus óculos novos...

- Mas deve estar ruim para enxergar. Como vai ser?

- Bem, dá para enxergar mais ou menos. Só copiar as coisas da lousa é que vai ser impossível...

- Já sei! É só eu servir de olhos para você! Eu serei seus olhos por uma semana. Vou cuidar para que você assista às aulas e ande por aí sem tropeçar. Ficarei do seu lado, garantindo a sua segurança, até que seus óculos fiquem prontos. Deixa comigo!

COMO É QUE É? EU OUVI BEM?

- 2° Dia -

- Alice...Alice tá na hora. Acorde. SEU NAMORADO VEIO TE BUSCAR.

Namorado? Onde? Levantei assustada.

- Poxa... você podia ter contado pra mamãe sobre ele, nééé? E que vergonha fazê-lo esperar na porta, menina!

- Não! Não! Não! Não é nada disso!

- Ah, é? Que pena. Ele até que é bonitinho. Eu gostei dele, viu?

- Eu nem sei que cara ele tem... - nunca encarei ele. Nunca encaro ninguém.

O problema agora não é esse. Caramba. Eu não sei que ele viesse mesmo! E agora o que eu faço?

- Bom dia! - Jasper me cumprimentou.

- Bo... bom dia...

- É interessante acordar com uma missão a cumprir. Faz tempo que não acordo tão cedo. - ele riu.

Parecia uma criança.

E agora? Só de estar ali, ele chama a atenção. Andar com ele significa que eu também vou chamar a atenção. As pessoas vão me ver, vão olhar para mim. VÃO OLHAR PARA MIM!

Como as pessoas conseguem conversar umas com as outras, olhando olho no olho? A gente nunca sabe o que o outro está pensando! Eu tenho medo. Não há como a gente adivinhar o que o outro está pensando de você. Vai saber o que as pessoas falam de você por trás? Eu não tenho coragem para levantar o rosto. Não quero me machucar mais.

- Eaêê, que milagre, Jasper! Andando com uma mina? - um cara com jeito de marginal veio falar com Jasper. - É namorada? Apresenta aí?

Me senti para baixo. Com certeza eles vão rir de mim.

- Nada disso. Vocês são má influência para a Alice. Sai pra lá.

- Qual é?

- Isso não se faz.

- Pô, e a amizade?

- Ah, cuidado com o degrau. - Jasper me segurou e me ajudou a subir os degraus que levam a sala.

Que medo. Os óculos eram uma proteção para mim. Preciso ficar de cabeça baixa, não quero que vejam o meu rosto.

Jasper abriu a porta para mim e eu pensei em fugir antes que todos os olhares viessem na minha direção.

- Alice, cuidado para não tropeçar na porta.

Ah, tarde demais. Todos estavam olhando para mim.

- Ali, o que foi aquilo? - Bella perguntou.

- Uh, estou passando mal com os olhares alheios. - estava suando frio e me sentindo enjoada.

- Servindo de olhos para você, é? Quem o imaginaria dando uma de cavalheiro... É a primeira vez que o vi sorrindo. Mas olho só, vou te confessar uma coisa, heim? To sentindo uma pitada de inveja!

Hã? Ninguém me entende. Elas não fazem idéia do sufoco pelo qual estou passando. Porque ele...

- Esse trecho. Alice leia para a sala. - o professor pediu.

- ALICE, É A PÁGINA 168, VIU? Jasper gritou. Eu não sabia onde enfiar minha cara.

Ele não tá nem aí com as pessoas ao redor! Eu não quero chamar a atenção! Eu não quero chamar a atenção.

- Algum problema? Por que me puxou aqui para conversar? - Jasper perguntou. Eu precisei chamar ele para uma conversa.

- Escuta. Sabe eu fico muito grata de você querer me ajudar, mas acho que eu estou bem... O resto eu posso pedir para as minhas amigas e elas podem me emprestar o caderno delas.

- Ah, imagina. Não gostaria que acontecesse algum acidente com você. Além disso, deve-se sempre ser gentil com as damas! - Jasper era gentileza pura.

- Hã? Mas... mas minha amiga mora perto de casa e não tem tanto perigo assim... - Que história de dama é essa?

- Ah, entendi. É ruim ter alguém como eu rondando à sua volta, né? - ele parecia meio triste.

Então, vou tentar não chamar a atenção. Mas quero que me deixe cumprir a promessa que fiz, tudo bem?

Não é isso. Eu não falei com essa intenção...

- Próximo! Página 130, Alice!

- EU LEIO, PROFESSOR! PODE DEIXAR QUE EU LEIO!! - Jasper gritou acenando. - PROFESSOR EU! EU!

- Ah, se faz tanta questão - o professor parecia assustado.

- Jasper, não adianta, você chama a atenção mesmo! - comentei enquanto ele me levava para casa.

- Hã? Sério? Fiz de novo? Eu nunca percebo essas coisas! Me desculpa! Amanhã eu prometo... - ele parecia envergonhado.

- Sabe, o que eu disse naquela hora não foi por sua causa não. - falei. Ele estava me ajudando e eu tratei ele mal.

- Então, por quê?

Eu não respondi. O Jasper não perguntou mais nada além disso. Parece que ele percebeu que eu tenho meus motivos. Eu morro quando as pessoas me julgam pela aparência, mas eu mesma havia julgado Jasper pela aparência dele. Ele era um rapaz gentil e educado muito mais do que parecia. Fiquei constrangida. Apertei os olhos para olhar discretamente para ele. E realmente, ele era bonito.

.
.
.

- 3º dia -


Mesmo assim, por mais gentil que fosse a pessoa, tirando uma pequena minoria de amigas, eu sentia um grande pavor em confiar nos outros. O fato de não ser bonita dominava completamente a minha personalidade. Pelas pessoas que eram bonitas, inteligentes e, ainda por cima, gentis, eu sentia complexo e inveja. Ficava boba com algumas outras que não eram tão bonitas, mas tinham cara-de-pau. Por aquelas que eram feias, mas cativavam os outros pela personalidade, chegava a sentir admiração.

Beleza. O problema sempre foi à beleza, Era como se tudo em mim resumia-se nesse rosto que eu tenho. Eu sabia que isso estava errado em mim, mas não conseguia mudar Jasper era muito gentil comigo, mas e se, no fundo, ele me achava feia? Esse pensamento me consumia.

- Jasper, não precisa vigiar a Alice até na sala de aula. Ela tá com a gente! - Rose disse.

Jasper ficava ao meu lado até na hora de comer. O dia estava sendo mais tranquilo, já que ninguém comentava mais.

- Nada disso. Eu não consigo imaginar ficar sem me preocupar, deixando uma dama numa situação desconfortável.

- Dama? Que senso de responsabilidade. Eu achei que você fosse um cara barra pesada, mas não tem nada haver, né? Até que você é simpático. - Rose falou.

- Eu sou um cavalheiro. O meu ideal é i espírito dos cavaleiros medievais. - Jasper mordeu o pão que comia.

- Mas... E aqueles caras que andam com você?

- Eles que vem atrás de mim, achando que eu sou um deles.

- Mas de vez em quando você cheira a cigarro.

- Deve ser o incenso que queimo em casa. Eu sou budista.

- Ah, isso não cola, heim?

- Jasper, você é um sarro!

Apesar de toda a sua gentileza, eu não conseguia nem sequer bater um papo descontraído com ele. Até minhas amigas estavam mais amigas dele do que eu. Que triste.

- Ali, a gente precisa passar na sala dos professores. Vai indo na frente para a aula de laboratório. Jasper, você leva ela?


(Silêncio)


Viu como acaba o papo?

- Posso carregar para você? - Jasper realmente era um perfeito cavalheiro.

- Ah, não precisa. - fiquei sem graça. - Você é diferente mesmo, né Jasper? Geralmente os meninos não costumam ser tão gentis com as meninas.

- Hã? É mesmo? Eu não sou muito ligado no que os outros fazem, sabe? Essa coisa de senso comum.

- Você não liga para o que os outros pensam? Nem um pouquinho?

- Nem um pouquinho. - nessa hora eu levantei o rosto e encarei-o.

Oh! Essa não! Sem querer, olhei para ele! Tô me descuidando, porque não estou enxergando direito.

- Por causa do meu jeito de ser, os marginais da escola pensam que eu sou da laia deles, os professores ficam de olho em mim... Sou sempre prejudicado. Justo eu, o perfeito cavalheiro. - Jasper fez uma cara engraçada.

Mas tenho inveja disso. De não ligar para o que os outros pensam. Eu fico petrificada só de pensar. Se bem que eu acho que o Jasper só consegue ser tão despreocupado porque não tem problema com a aparência dele. Ser bonito traz tantos benefícios. Não consigo evitar pensar assim. Pensando bem, que garota deprimente eu sou.

- Você parece um tigre, Jasper.

- Um tigre?

- Os tigres são animais que vivem sozinhos. Os outros bichos precisam formar bandos para sobreviverem. O tigre consegue se virar sozinho. Ele é forte e destemido.

- Um tigre? Que legal! - ele começou a rir.

Acho que sinto admiração por ele. Por ser tão diferente de mim, uma covarde que só fica olhando para baixo para se esconder. Ah se eu conseguisse ser tão desencanada como ele... Como eu me sentiria livre. Um vento forte tirou os cabelos do meu rosto e trouxe a lembrança que eu vivia escondendo.


- Flashback –


“- Cara! Sabe a Alice? Disseram que ela gosta de você.

- Olha que dedicação. Ela te emprestou o caderno e tudo.

- Putz, mas não podia ser outra não? Ela é tão feia.

- Ha, ha, ha. Que sacanagem cara!"

- Fim do Flashback -



O peso dessa lembrança me fez desabar no chão e as lágrimas que eu contive por tanto tempo escaparam.

- Alice? O que foi? - Jasper perguntou. - Entrou alguma coisa no seu olho? - eu não conseguia responder. - Sabe, eu estava mesmo para te perguntar, por que você sempre esconde o rosto?- quando ele indagou isso começei a chorar mais ainda - Ah, mas se não quiser responder, não tem problema.

- Feia - sussurrei.

- Hã?

- Porque eu sou feia. Me chamaram de feia. Eu adoraria ser como você, mas não consigo. Não sou forte o suficiente para desencanar ouvindo uma coisa dessas.

Nesse instante Jasper pegou meu rosto entre suas mãos e me olhou intensamente.

- NÃO! - eu gritei assustada.

- Será? Eu não acho que você seja feia.

- Mas me chamaram, sim! Disseram que eu sou feia! Então, eu sou feia! Você olhou direito? Não vale mentir porque você é cavalheiro!

- Hum... É que eu fui educado por minha vó, que tinha mais de oitenta anos. Não tenho critérios para avaliar isso. - ele afagou minha cabeça com carinho. - Por isso você olha toda hora para baixo?

- É que todo mundo riu de mim. Ninguém estava nem aí comigo.

- Essas pessoas não eram cavalheiros de verdade. Ainda bem que você não se envolveu com um cafajeste desses. - ele sorriu.

- Foi como se dissessem que eu não tenho direito de estar viva. - as lágrimas não paravam de descer.

- Se alguém nessa história não tem o direito de estar viva seriam as pessoas que disseram isso a você. - Jasper me abraçou e aos poucos eu fui me acalmando.


Por que eu contei tudo para ele? Se eu havia escondido isso de todos até hoje? As palavras e as lágrimas tinham um poder inesperado. Foi como se todo aquele peso que eu escondia a sete chaves dentro de mim fosse lavado de dentro do meu coração. Me senti bem depois disso.

Aquele foi o meu primeiro amor. Prometi para mim mesma que jamais gostaria de outro alguém, para não ter que passar por aquele sofrimento de novo. Escondi meu rosto, disfarcei meu corpo e escolhi roupas que não chamassem a atenção. Achei que assim evitaria me machucar de novo. E eu estava certa, mas só então percebi. O fato é que eu jamais consegui ser feliz desse jeito.

.
.
.

- 4° dia -


- Olha, olha Alice - Rose me chamou assim que cheguei na escola. - Tem uma promoção boa no shopping da estação. Achei essas presilhas lindas por um bom preço. Acabei comprando um monte.

- Uau! Que gracinhas! - aproximei as presilhas para enxergar.

- Escolhe uma pra você! –

- Sério? Tá podendo, heim? - escolhi a presilha de borboleta.

- Alice, me deixa por no seu cabelo? - Rose parecia encantada com a idéia de me mudar, mesmo que seja um pouco.

- Hã? - eu estava com vergonha.

- Deixa, vai?

- Ah... Bem... - Rose começou a mexer no meu cabelo.

De repente, comecei a pensar o que o Jasper estava fazendo naquela hora. E a curiosidade atiçou a vontade de olhar. Sem óculos, fica tudo embaçado, mas eu queria ver. Fazia tempo que não tinha coragem de olhar para o rosto das pessoas, mas a vontade de saber o que ele estava fazendo venceu nessa hora.

Jasper estava sorrindo para mim, com os olhos brilhando. Eu fiquei com muita vergonha e não consegui mais levantar o rosto, mas não por medo...

.
.
.

- Jasper, você comeria se eu cozinhasse algo para você? - perguntei, caminhando com ele depois da aula.

- Hã?

- É que eu só vejo você comendo pão. Deve ser muito pouco para te sustentar! E seria uma forma de eu retribuir o que tem feio por mim.

- Ah, não! Não seja por isso! Eu não quero dar trabalho...

- Tudo bem. Preparar um ou dois dá na mesma.

- Não sei o que dizer. Na verdade, já faz um tempo que não como comida caseira, sabe...? É... Sim, ficaria muito feliz! - Jasper parecia constrangido, mas estranhamente contente.

- Faz tempo?
- Sim. Meus pais são muito ocupados e nunca estão em casa. Por isso, eu como no refeitório da escola ou compro comida nas lojas de conveniência. Já faz meio ano que vivo assim.

- Isso faz mal para saúde...

- Antes, quem cuidava de mim era a minha vó, mas ela morreu na primavera.

- Não sabia. Deve ser dureza, né?

- Como? Por quê? Eu não entendo bem dessas coisas. É que eu...

- “Não sou muito ligado no que os outros pensam." - falei e nós dois começamos a rir.

- Eu sou meio estranho, não é mesmo? Só descobri isso depois que me falaram. Deve ser porque convivi muito tempo com a minha avó. Mas foi bem. Pude aprender diversas coisas com uma grande expert da vida. Ela dizia que as pessoas vazias são aquelas que mais gostam de se meter na vida dos outros. Que gente que ouve muito a opinião alheia acaba desgostosa da vida. Que as respostas que você obtém passando por sofrimento são mais valiosas do que obedecer às palavras de 'gente importante’. Por isso eu... Ah, já chegamos à sua casa. - ele me olhou e depois andou alguns passos, até olhar para trás e acenar. - Bem, vou indo. Até segunda.

Senti que o domingo ia se tornar um dia longo e tedioso.


.
.
.

- 6° dia -


- Jasper! Bom dia!

- Bom dia! Como está?

- Bem. Toma. O prometido. - entreguei a marmita para ele.

- UAU! Muito obrigado! AHHHH! Que saudades da comida caseira! - ele estava quase chorando de tanta felicidade.

- Mas tente comer sem mostrar para os outros, tá?

- Por quê?

- É que o conteúdo é igual ao meu. Se perceberem, vão falar da gente. Mais do que já falam.

- Será?

- Vão, sim.

- Por que será?

- Porque sim!

Jasper nunca ia entender isso, mas era divertido estar ao lado dele. O mais engraçado é que ele ficou feliz!

Estava andando em direção a biblioteca, para devolver o livro que eu peguei sozinha. A minha sorte foi ter feito amizade com ele sem os óculos. Assim, não me deixei levar pela sua aparência.

- Comer ao ar livre é muito bom! - ouvi um cara comentar. Sem a minha visão perfeita, desenvolvi uma audição aguçada.

- Quer dizer que o Jasper tá comendo da comidinha que sua namoradinha fez? Podia dar um pedaço pra gente, né?

- Namoradinha? Bem, ela é minha grande amiga...

- Mas cara, você não tem um gosto muito bom, né? Não querendo dizer nada, você não precisa ficar com uma mina daquelas. Você podia pegar coisa melhor.

Nesse instante, senti meu coração se despedaçar de novo, mas pelo barulho que se fez lá fora, percebi que Jasper havia brigado com o menino que falou isso. Olhei pela janela e consegui ver um vulto caído no chão.

- Não quero mais saber de vocês. - Jasper disse e continuou comendo.

.
.
.

- 7° dia (último dia)


- Bom dia! - cumprimentei minhas amigas.

- Bom dia! - falou Bella.

- Oiiie, Alice! Jasper! - Rose sorriu. - Ali, você tá tão diferente...

- Né? Boa menina, boa menina. - disse Bella.

- Vocês acham? E isso é tudo graças ao meu amigo Jasper.

- Sim, sim, sim. - elas concordaram.

- Eu? Mas eu não me lembro de ter feito nada!

- E ele não percebe... - comentei.

- Pois é... - elas concordaram de novo.

E enfim. Chegou a hora da despedida.

- Ah, depois de uma semana estou enxergando! - falei, depois de colocar meus óculos.

- Eu estou aliviado por ter cumprido minha missão. Então... De novo, lamento o ocorrido. - Jasper parecia meio triste.

- Não foi nada. Obrigada por tudo. Vou cozinhar de novo para você.

- Obrigado. Nos vemos amanhã. - ele deu tchauzinho pra mim.

Tudo aconteceu em apenas uma semana. Mas foram dias muito mais proveitosos que meses e anos. Engraçado como ninguém mais me chamou de feia desde então. Se bem que isso não me incomodava mais. Hoje, dois meses depois, aqueles dias de sofrimento parecem mentira.

- Alice! - Jasper chamou. Estávamos saindo da escola e chovia muito. - Com licença, podia me dar uma carona?

- Lógico, vamos. - tantas coisas mudaram. Até eu mudei! Troquei meus óculos por lentes de contato.

Eu e Jasper continuamos bons amigos. Às vezes voltamos para a casa juntos. Na verdade, eu tenho uma paixão por ele, mas Jazz me parece tão alienado a essas coisas de namoro e amor que eu resolvi esperar a melhor hora para falar.

- Alice, aquela lasanha que você fez outro dia estava uma delícia!

- É mesmo? Posso fazer de novo para você.

- Eu também gostei da salada de frango desfiado e pepino.

- Trago isso também.

- Nada de cozinhar para outro homem, além de mim, heim?




The End


sábado, 11 de setembro de 2010


Seu cabelo fluía graciosamente pelas suas costas nuas e pálidas. Ela emanava uma aura densa e atraente, uma sedução sobrenatural e soturna. Eu precisava tê-la naquela noite de qualquer jeito.

Engoli seco ao vê-la beber seu sakê, seus lábios finos e habilmente pintados pelo batom vermelho fizeram minhas pernas tremerem. Ainda bem que eu estava sentado, minha queda teria me causado um grande constrangimento.

Seu olhar penetrante me hipnotizou, parecia poder ler a minha alma por completo, senti-me nu e desprotegido perante sua confiança e tranquilidade, como uma criança perante um adulto ou como um animal assustado.

Os dedos finos e longos brincavam com a piteira prateada; ria serenamente de alguma trivialidade vinda de sua própria mente. Como uma mulher como aquela poderia estar sozinha numa noite quente como essa? E como um homem como eu conseguiria fazer com que ela me notasse entre tantos outros jovens interessantes e bonitos?

Mais uma dose, é disso que eu preciso para ganhar coragem. Mais uma dose e eu viro o homem ideal. Mais uma dose e eu acordo de ressaca pela manhã sem ter falado com ela.

Meus dedos dos dos pés pressionaram as solas dos meus sapatos, eu já estava alterado por culpa da bebida, no entanto não entendia essa reação do meu corpo. Senti-me embriagado, o perfume dela cuidava disso, e eu tinha a certeza de que ela poderia me fazer o trabalhador fracassado mais feliz do universo, era como se ela pudesse atender a todos os meus desejos num piscar de olhos.

Fitei o balcão do bar apreensivo, cerrei os punhos, vi meu reflexo na pedra negra onde me apoiava, meu corpo marcava-a com um círcula de água. Encolhi meus braços quando alguém sentou-se ao meu lado. Aquela presença, aquele perfume inebriante, moveu-se como se mal tocasse o chão, não ouvi passos, seus movimentos seguiam o compasso de uma música inexistente que fluía pelo ar. Subitamente a atmosfera do bar tornou-se menos densa e abafada.

"Você acredita em sorte, não é mesmo?"

Um sorriso discreto e sereno brincava em seus lábios finos e vermelhos, de longe eu não havia percebido o quão negros eram seus cabelos e nem o quanto ela era bonita.

Não soube o que dizer, minha voz sumira da garganta, uma autossabotagem causada pela minha estúpida timidez. Pisquei estupefato, ela era estonteante e a sua aura soturnamente sedutora me enfeitiçava. Senti-me mais leve mesmo suando furiosamente enquanto ela me analisava com seus olhos penetrantes.

Respondi que sim, envergonhado. Disse-me que não havia razão para me envergonhar, que a sorte era um elemento fundamental para o ser humano, alimenta a nossa fé. Foi então que percebi como sua voz fluía para dentro dos meus ouvidos como se os acariciasse e mexia fundo comigo. Eu estava totalemente vulnerável a qualquer capricho dela e uma parte pequena de mim não gostava muito disso. No entanto não me importei, sempre fui muito desconfiado das pessoas, só que resolvi calar minha insegurança, perderia tempo demais analisando a situação. Não queria que ela fosse embora.

Era madrugada quando finalmente saímos do bar. Mesmo após beber tanto sakê ela permanecia com a postura elegante, movia-se como um felino. Ela tinha um colar de borboleta contrastando com o pálido colo, a roupa justa e decotada evidenciava seu esguio e maravilhoso corpo. Corpo esse que seria meu a qualquer custo. Olhava-me de soslaio como se adivinhasse meus impuros pensamentos e aquele mesmo sorriso brotou em seus lábios vermelhos novamente.

Sussurrou em meu ouvido que aquilo teria um preço.

Meus membros estremeceram por completo ao ouvir seu timbre de voz tão perto de mim. Seus dedos pousaram em meu queixo e seu olhar me hipnotizou por completo, aquela feiticeira me tinha a sua mercê e não me senti nem um pouco mal com isso. Já havia reprimido a minha insegurança sem sentido.

Ela me disse que as pessoas a procuravam quando tinham desejos a serem atendidos, para ela nada era impossível e me perguntou se eu estaria apto a pagar o preço que fosse para ter a minha vontade realizada.

Aquele "sim" foi a melhor palavra que já disse em toda a minha vida

--x--

A luz forte do sol cegou seus olhos, sentiu o vento da manhã afastar o lençol de seu corpo, viu as roupas espalhadas pelo chão, suas roupas. "Quando foi que as tirei", pensou. Sua cabeça girava um pouco, sabia que não deveria ter bebido tanto. Esfregou os olhos tentando se lembrar de algo da noite passada. Nada. Uma lacuna total.

Foi quando notou algo no travesseiro ao seu lado. Uns poucos e longos fios de cabelo, o cabelo mais negro que ele já tinha visto. Contrastavam perfeitamente com o branco da fronha e aquele cheiro...

"Quem foi a mulher que se deitou comigo?". Ele jamais saberia, pois tudo o que tinha era apenas longos e lindos fios de cabelo e aquele perfume inebriante que se mistura a sua pele.

--x--

- Nunca vou te esquecer...

- Acredite, você vai sim - aquele mesmo sorriso sereno e discreto foi a última coisa que vi antes de aninhá-la nos meus braços e cair no melhor sono que já tive em toda a minha vida. Foi como se algo tivesse sido apagado de minha mente.



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor e porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo à luz. E, à medida que se acostuma se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto. A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Acostuma-se para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Carpe Diem



Às vezes é difícil entender o porquê das coisas.

Ginny Weasley sempre foi uma excelente amiga. Prestativa e inteligente, além de ser muito divertida (bom, eu não poderia esperar outra coisa da irmã de Fred e George). Acho que essa peculiaridade acabou me levando a acreditar em uma ilusão. Hoje, eu acho graça, mas, há algum tempo, eu realmente imaginei que estava apaixonado por ela e não faço idéia porque eu acreditei que a recíproca era verdadeira.

Quão errado eu estava!

Eu a convidei para o Baile de Inverno e tracei um plano para dizer a ela o que eu estava sentindo. Bom, como sempre, alguma coisa tinha que dar errado. Durante a primeira dança – exclusiva para os campeões – eu não pude deixar de perceber o olhar que ela lançava para o Harry.

Os brilhantes olhos castanhos acompanhavam cada movimento do famoso Harry Potter e um discreto brilho de ciúme cobria o rosto dela. Se eu pudesse, acho que teria cavado um buraco no meio do salão e enterrado minha cabeça ali mesmo. Contudo, eu pensei melhor e achei que não seria justo deixar a Ginny ali sozinha. Além da falta de educação, talvez eu perdesse a amizade dela e, mesmo reconhecendo que eu não tinha chance alguma, já que eu sou apenas o Neville-desastrado-Longbottom, eu sabia que a Ginny sempre mereceu o que há de melhor e eu me esforçaria para que ela se divertisse. E foi o que fiz. Aproveitamos a festa, a companhia um do outro e, no fim das contas, nos divertimos de verdade.

Interessante é que eu também achei injusto eu não me divertir porque o que eu queria não tinha dado certo. Percebi que já estava mais que na hora de eu me dar a chance de aproveitar o momento.

Eu tenho um tio-avô apaixonado por trouxas que sempre leu sobre eles e até conviveu alguns anos entre eles. O tio Augustus sempre chegava com grandes e, no entender da vovó, perigosas novidades. Mas eu gostava quando ele me contava sobre os livros e invenções trouxas. No último verão antes do Baile de Inverno, ele escreveu uma frase numa língua diferente e fixou na porta do meu quarto. O pequeno cartaz dizia: Carpe Diem. Quando eu perguntei o que aquilo significava, ele foi simples e direto e acabou me ajudando a tomar aquelas decisões tão rápidas no início do baile: Carpe Diem? Aproveite o dia! Aproveite o dia, Neville, e escreva sua própria história. Ouça sempre sua avó, mas não se esqueça que quem vai viver sua vida é você, e não ela.

Aquelas palavras ficaram vivas na minha mente pelo restante do verão e do ano. Eu ficava pensando em como eu poderia aproveitar o dia. Eu sabia – sabia não, sentia – que eu tinha que mudar a forma como eu olhava para a vida e para as pessoas; principalmente, eu deveria dar mais crédito à pessoa que eu sou. O tio Augustus não sabe o bem que fez quando fixou aquele pedaço de pergaminho na minha porta. Ao som dos últimos acordes da valsa dos campeões, eu sussurrei para mim mesmo: Carpe Diem.

Depois disso, eu lembrei da minha avó. Ela sempre me disse que eu deveria honrar o cavalheiro que o papai sempre foi e, como ele, tratar bem todas as pessoas ao meu redor. Naquela ocasião, não seria nada difícil. Como, de fato, não foi. Reforcei meus laços de amizade com a Ginny, me diverti como nunca, sublimei com uma rapidez incrível a frustração inicial com relação aos sentimentos que eu achava ter por ela e ainda tive a certeza de que tudo tem seu tempo. Nada acontece antes do momento certo.

Bom, se todo aquele episódio do baile tivesse acontecido alguns meses antes, eu talvez tivesse enfiado meu rosto no travesseiro e lamentado. Eu, então, ainda não entendia o verdadeiro significado de aproveitar o dia. Mas, graças a meu tio Augustus e a mim mesmo, resolvi virar o jogo e saí ganhando. E hoje sei que foi melhor assim. Aliás, foi muito melhor assim! Não existem acasos na vida, e a própria Ginny me apresentou a razão de eu ter certeza de que eles não existem. Afinal, Luna Lovegood jamais seria um acaso.

------------

Na primeira manhã que passei em Hogwarts, fiz questão de mandar uma carta pro papai dizendo que eu havia mantido a tradição das mulheres da família da mamãe: Ravenclaw. Foi engraçado, ele tinha certeza de que dessa vez seria diferente.

"Você estará em Hufflepuff e essa tradição que envolve as mulheres da família da sua mãe vai ser quebrada. Claro que eu adorava o fato de ela ser de Ravenclaw porque eu tenho certeza que teria tido problemas de aprendizado se eu dividisse a mesma casa com ela; mas, enfim, você será diferente, filha!"

É, eu sou diferente!

Acho que isso afasta as pessoas de mim. Ao mesmo tempo em que é ruim ser excluída e isolada pela maior parte das pessoas, ser diferente é bom para atrair companhias mais leais e sinceras. E disso, eu não posso me queixar, porque os amigos que eu tenho são os mais verdadeiros possíveis. Ah, leia-se amigos: Colin Creevey e Ginny Weasley. Duas pessoas fantásticas. Acho que são os únicos bruxos suficientemente loucos para me aturar. A Ginny adora rir das histórias de todas as viagens que eu já fiz com o papai. O Colin diz que, qualquer época, quer ir conosco porque ele quer ter fotos de Bufadores de Chifre Enrugado e também de zonzóbulos. Seria ótimo! Tenho certeza de que o papai iria adorar conversar com ele.

Bom, de qualquer forma, não é tão legal ter apenas dois amigos de verdade. Eu não estou reclamando, óbvio, mas eu gostaria de poder ter mais amigos. Sempre que alguma coisa acontece com Harry Potter, tanto o Colin quanto a Ginny parecem se desligar do mundo. E eu? Eu fico sozinha esperando eles voltarem ao normal. E isso é pura ironia: as pessoas me chamam de Di Lua Lovegood, mas não conseguem perceber nada ao redor de si, e nem vêem o Colin ou a Ginny completamente aéreos porque alguma coisa aconteceu com o Harry.

É sempre assim! Desde o nosso segundo ano, vejo meus amigos vivendo calmamente até que algo muito grande relacionado ao Harry acontece e eles se transportam para outra dimensão. Impressionante o poder que o menino que sobreviveu tem. Tudo bem que a Ginny gosta dele e o Colin acha que ele é o herói indestrutível. "Ele é melhor que o Superman!", ele diz. Mas eu não sei se isso justifica eles se transportarem para outra dimensão por causa dele!

Ah, papai nunca me falou desse tal Superman. Acho que é um super policial ou um super juiz ou um super-alguma-coisa. Os trouxas sempre precisam de um super-alguma-coisa para encontrarem qualquer sensação de heroísmo perto deles. E o mais engraçado, nós bruxos também fazemos isso com o pobre do Harry.

Bom, sempre que o Colin e a Ginny ficam perdidos nessa dimensão paralela, eu encontro o meu momento para viver um pouco da minha própria solidão.

Eu tinha certeza, até um tempo atrás, que ninguém, além de mim, freqüentava uma pequena colina que fica próxima ao campo de Quadribol. É lá que eu vivo a minha solidão. As pessoas brincam comigo e esquecem que eu não sou tão aluada como eles imaginam. É, às vezes, dói saber que ninguém me respeita. E é nesses momentos que eu me recolho, que eu busco na minha solidão respostas para o que eu quero e preciso. Por vezes, eu simplesmente preciso ficar sozinha, como sempre fui. Há dias que eu preciso me sentir um pouco mais próxima de tudo que eu acredito, mesmo que as pessoas não acreditem em mim.

E eu sempre vivi essa solidão. Ter perdido a mamãe tão cedo acabou me colocando nessa condição, infelizmente. Por isso, eu adoro ir àquela colina e ficar horas por lá simplesmente contemplando a naturalidade das coisas. Isso sempre me fez muito bem. Mas, no dia que eu vi Neville Longbottom sentado em meu exato cantinho preferido da colina, olhando para algum ponto além da Floresta Negra, eu percebi que a condição de ser e estar sozinho não era apenas minha.

Naquele fim de tarde, eu cedi meu local de refúgio ao Neville. Talvez, naquele momento, ele precisasse do silêncio e paz daquele lugar mais que eu. Naquele dia, eu também percebi que Neville Longbottom era diferente, e eu acho que foi isso que me fez não conseguir tirá-lo da cabeça daquele dia em diante.

Procuramos tanto por algo que se chama felicidade. E nessa busca não vemos quantas vezes somos felizes. Queremos tanto o impossível que não vemos o quanto as coisas são possíveis. Sonhamos tanto com os melhores momentos, que só o percebemos quando já se foram. O melhor sonho de uma felicidade eterna,é viver um grande momento,com pessoas que sabem viver pequenos instantes!
Siga as instruções de uma vida sem saudade, assim é melhor. Se o chão se abrir e você sentir que já não tem mais forças, confie e acredite sempre um pouco mais. Se existe o caos e a dor, também existe a fé e a esperança em algo maior, algo melhor. Não é felicidade, amor ou carinho e sim viver e aceitar que pra cada dia ou pensamento que ferir seu coração, vai existir a recompensa por tudo o que você passou, e pra cada sonho que perdeu, encontrará um novo sonho inteiro ao seu dispor.
Não, obrigada


Não gosto de nada que seja metade. Não gosto de meio termo. Gosto dos extremos. Gosto do frio. Gosto do quente (depende do momento.) Gosto dos dedinhos dos pés congelados ou do calor que me faz suar o cabelo. Não gosto do morno. Não gosto de temperatura-ambiente. Na verdade eu quero tudo. Ou quero nada. Por favor, nada de pouco quando o mundo é meu. Não sei sentir em doses homeopáticas. Sempre fui daquelas que vão embora sem olhar pra trás. Sempre dei a cara à tapa. Sempre preferi o certo ao duvidoso. Quero que se alguém estiver comigo, que esteja. Mesmo que seja só naquele momento. Mesmo que mude de idéia no dia seguinte.
Triste Pega-Pega


Se você deixa de ter alguém ou algums coisa, sente sua perda e depois, passado algum tempo, tenta preencher o buraco que ficou em sua vida. A ausência, aos poucos, fica cada vez menor. Você não esquece, não se cura completamente, mas sobrevive.

Lembro-me quando nos conhecemos. Eu tinha acabado de me mudar, estava em uma escola completamente desconhecida, estava perdida e com medo. Você não foi a primeira pessoa com quem falei, mas foi a primeira pessoa que eu realmente gostei. Você sempre me ajudou, sempre estendeu a mão, sempre sorriu. Sempre me senti segura do seu lado.

Ao longo dos anos, brigamos muito. Dois cabeçudos que não dão o braço a torcer nunca, mas, mesmo que seja um paradoxo, ficamos mais unidos. Você era meu porto-seguro, meu anjo. Você era e ainda é minha alma gêmea, a outra parte que me completa. Você secou as minhas lágrimas, me consolou quando eu estava magoada e me deu um pouquinho de fé para acreditar que dias melhores viriam. Adorava quando você me dizia que me amava, te dar conselhos amorosos, apertar você com vontade de nunca te soltar, olhar do seus olhos e ver o quanto eu era importante pra você.

Já há algum tempo, quase todos os dias, antes de dormir, me pergunto porquê tudo teve que dar errado. O que você me falou me fez pensar e aos poucos fui entendendo a situação. Você falou que foi mesquinho, mas eu também fui. Eu sabia que você gostava de mim mais do que como amiga e usei seus sentimentos. Quis ficar com você sabendo que era covardia, que te iludiria, que te machucaria. Entramos em uma brincadeira, num triste pega-pega, correndo atrás de pessoas que não nos correspondiam do que jeito que queríamos. É triste o destino das linhas paralelas. Doce e amargo, caminham sempre juntos lado a lado, para o mesmo lugar, sem esperança de um dia se cruzar.

Já provamos e passamos por tanto, meu querido, atravessando uma fenda tão longa, que nada mais me surpreende mais.

Não me importa mais o que aconteceu antes, desde que um dia você volte a sorrir, mesmo que não seja pra mim.


Te amo

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Manu *-*


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louca e santa. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a amizade virtual não é fria, impessoal e desprovida de sentimento. Não, bem pelo contrário, a amizade virtual é singela, surpreendente e sincera. Você é uma pessoa assim, especial, muito especial pra mim. Uma pessoa que me entende, uma pessoa incrivel, que eu adorei conheçer. Aprendi muito com você. Juntas somos o sorriso, o conforto e o todo. Somos o abraço, o ombro e a mão sempre estendida. Somos ridicularmente opostas e extremamente parecidas. Falamos, rimos e gargalhamos. Comentamos e choramos. Nossa amizade completa a falta, consola o amor perdido, substitui a dor pelo amor.

Quantas vezes você me ouve, me anima, me faz seguir em frente, participa das minhas alegrias e trata meus assuntos, como se fossem seus, me dá conselhos que eu respeito, porque sei que são sinceros. Às vezes concordamos, em outras discordamos. Você faz parte do meu mundo. Descobri uma amiga, descobri uma confiança, descobri uma amizade, descobri você ! Muitos momentos bons virão para nós duas, e cada um dele vai ser guardado no coração ! ♥ Feliz aniversário *-*