sábado, 11 de setembro de 2010


Seu cabelo fluía graciosamente pelas suas costas nuas e pálidas. Ela emanava uma aura densa e atraente, uma sedução sobrenatural e soturna. Eu precisava tê-la naquela noite de qualquer jeito.

Engoli seco ao vê-la beber seu sakê, seus lábios finos e habilmente pintados pelo batom vermelho fizeram minhas pernas tremerem. Ainda bem que eu estava sentado, minha queda teria me causado um grande constrangimento.

Seu olhar penetrante me hipnotizou, parecia poder ler a minha alma por completo, senti-me nu e desprotegido perante sua confiança e tranquilidade, como uma criança perante um adulto ou como um animal assustado.

Os dedos finos e longos brincavam com a piteira prateada; ria serenamente de alguma trivialidade vinda de sua própria mente. Como uma mulher como aquela poderia estar sozinha numa noite quente como essa? E como um homem como eu conseguiria fazer com que ela me notasse entre tantos outros jovens interessantes e bonitos?

Mais uma dose, é disso que eu preciso para ganhar coragem. Mais uma dose e eu viro o homem ideal. Mais uma dose e eu acordo de ressaca pela manhã sem ter falado com ela.

Meus dedos dos dos pés pressionaram as solas dos meus sapatos, eu já estava alterado por culpa da bebida, no entanto não entendia essa reação do meu corpo. Senti-me embriagado, o perfume dela cuidava disso, e eu tinha a certeza de que ela poderia me fazer o trabalhador fracassado mais feliz do universo, era como se ela pudesse atender a todos os meus desejos num piscar de olhos.

Fitei o balcão do bar apreensivo, cerrei os punhos, vi meu reflexo na pedra negra onde me apoiava, meu corpo marcava-a com um círcula de água. Encolhi meus braços quando alguém sentou-se ao meu lado. Aquela presença, aquele perfume inebriante, moveu-se como se mal tocasse o chão, não ouvi passos, seus movimentos seguiam o compasso de uma música inexistente que fluía pelo ar. Subitamente a atmosfera do bar tornou-se menos densa e abafada.

"Você acredita em sorte, não é mesmo?"

Um sorriso discreto e sereno brincava em seus lábios finos e vermelhos, de longe eu não havia percebido o quão negros eram seus cabelos e nem o quanto ela era bonita.

Não soube o que dizer, minha voz sumira da garganta, uma autossabotagem causada pela minha estúpida timidez. Pisquei estupefato, ela era estonteante e a sua aura soturnamente sedutora me enfeitiçava. Senti-me mais leve mesmo suando furiosamente enquanto ela me analisava com seus olhos penetrantes.

Respondi que sim, envergonhado. Disse-me que não havia razão para me envergonhar, que a sorte era um elemento fundamental para o ser humano, alimenta a nossa fé. Foi então que percebi como sua voz fluía para dentro dos meus ouvidos como se os acariciasse e mexia fundo comigo. Eu estava totalemente vulnerável a qualquer capricho dela e uma parte pequena de mim não gostava muito disso. No entanto não me importei, sempre fui muito desconfiado das pessoas, só que resolvi calar minha insegurança, perderia tempo demais analisando a situação. Não queria que ela fosse embora.

Era madrugada quando finalmente saímos do bar. Mesmo após beber tanto sakê ela permanecia com a postura elegante, movia-se como um felino. Ela tinha um colar de borboleta contrastando com o pálido colo, a roupa justa e decotada evidenciava seu esguio e maravilhoso corpo. Corpo esse que seria meu a qualquer custo. Olhava-me de soslaio como se adivinhasse meus impuros pensamentos e aquele mesmo sorriso brotou em seus lábios vermelhos novamente.

Sussurrou em meu ouvido que aquilo teria um preço.

Meus membros estremeceram por completo ao ouvir seu timbre de voz tão perto de mim. Seus dedos pousaram em meu queixo e seu olhar me hipnotizou por completo, aquela feiticeira me tinha a sua mercê e não me senti nem um pouco mal com isso. Já havia reprimido a minha insegurança sem sentido.

Ela me disse que as pessoas a procuravam quando tinham desejos a serem atendidos, para ela nada era impossível e me perguntou se eu estaria apto a pagar o preço que fosse para ter a minha vontade realizada.

Aquele "sim" foi a melhor palavra que já disse em toda a minha vida

--x--

A luz forte do sol cegou seus olhos, sentiu o vento da manhã afastar o lençol de seu corpo, viu as roupas espalhadas pelo chão, suas roupas. "Quando foi que as tirei", pensou. Sua cabeça girava um pouco, sabia que não deveria ter bebido tanto. Esfregou os olhos tentando se lembrar de algo da noite passada. Nada. Uma lacuna total.

Foi quando notou algo no travesseiro ao seu lado. Uns poucos e longos fios de cabelo, o cabelo mais negro que ele já tinha visto. Contrastavam perfeitamente com o branco da fronha e aquele cheiro...

"Quem foi a mulher que se deitou comigo?". Ele jamais saberia, pois tudo o que tinha era apenas longos e lindos fios de cabelo e aquele perfume inebriante que se mistura a sua pele.

--x--

- Nunca vou te esquecer...

- Acredite, você vai sim - aquele mesmo sorriso sereno e discreto foi a última coisa que vi antes de aninhá-la nos meus braços e cair no melhor sono que já tive em toda a minha vida. Foi como se algo tivesse sido apagado de minha mente.



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