domingo, 19 de setembro de 2010





Título: O tigre e o camaleão - O acordo de uma semana



Vivia olhando para baixo. Não queria que ninguém percebesse a minha existência.


- Oba! Estamos na mesma sala de novo! Que legal! A gente vai poder viajar junto nas excursões! - minha amiga Bella disse.

- Alice! Você tá com a gente também! Que bom né? Eu estava preocupada de ficar sozinha. - Rosalie, minha outra amiga, falou.

- Eh... É! Que bom...

Mais um ano começou. Por que existe essa de mudar de sala? Essa época do ano é um sofrimento para gente acanhada como eu. Minto... Ainda existe uma coisa pior que isso... O 'terror'...

- Oi gente! Me chamo Ronald Watson. Podem me chamar de Ron, Rony ou como bem entenderem. Meu hobby é escutar música clássica.

- Háháhá! Que coisa de velho.

Apresentação. Esse é a pior parte do ano. Olha lá! Como eles conseguem falar com tanta calma na frente dos outros?

- Agora é a vez das meninas. - o professor anunciou.

Oh, não! Estou ficando nervosa! Será que ninguém mais tem medo? Falar na frente das pessoas? Isso é coisa do outro mundo! Ai estou me sentindo gelada, estou suando frio, minha cabeça está zonza, minhas mãos tremem...

NÃO DÁ! NÃO DÁ! NÃO DÁ!


Por que eu preciso me apresentar para a sala? Quem precisa saber quem eu sou?

-Próxima. Alice?

Tentei me levantar da cadeira, mas acabei caindo. É claro que as pessoas riram.

- Ficou nervosa de novo? - perguntou Bella.

- Vo... Você tá bem? - Rose me ajudou a levantar.

Respirei fundo e fui para frente da sala.

- Sou Alice Brandon. Mui... Muito prazer.

Agora, acabaram todos os rituais chatos de começo de ano.

- Muito bem! Você conseguiu. - Rose me parabenizou.

- Obrigada. - É só continuar quietinha que todos vão me esquecer.

No ginásio, eu fui chamada de 'feia' pelo menino que eu gostava. Desde então, não consegui mais levantar o rosto.

- Escuta - Rose falou - A pessoa que senta do seu lado ainda não apareceu desde o começo das aulas, né? - olhei para a carteira vazia do meu lado. - O que será que aconteceu.

- Ah!! Quem senta aí é o Jasper Whitlock, certo? É bom mesmo que ele não venha. Eu já o vi com a galera barra pesada! O cara mete medo, heim? Cuidado. - Bella comentou.

- Hã? Sério? - nossa, que medo de pessoas assim.

Na quarta aula o professor apareceu para fazer um comunicado e trouxe um novo aluno.

- Por motivos familiares, ele está voltando às aulas só agora. Esse é o Jasper Whitlock, colega de sala de vocês.

Deve ser horrível chegar na sala depois. Coitado!! ( fica nervosa tomando as doresdo outro)

- Prazer - Jasper falou com uma voz séria.

Ele andou com um andar firme e se sentou na cadeira. Ele emanava uma aura negativa e todos ficaram pasmos com ele.

- Por favor, pode continuar a aula. - falou, depois de observar que todo mundo olhava ele.
Só posso dizer uma coisa: que medo!

Todas as pessoas da sala ficaram assustadas. Todos olhando curiosos. Mas ele não está à mínima! Como consegue? Se fosse eu, não suportaria esses olhares sobre mim! É melhor eu não me aproximar dele.

E isso aconteceu na primavera.

Como eu voltei a agir de forma extremamente discreta, ninguém mais olhou para mim. O que não acontecia com Jasper. Apesar de ser tão calado e quieto quanto eu, ele não deixou de chamar atenção de todos, como uma figura misteriosa e amedrontada.


O tempo passou...

O verão de foi...

O outono também e chegou o inverno.


-Xi... Já está escuro! No inverno é só atrasar um pouco que fica tudo escuro lá fora. - falei, trancando a porta da biblioteca. - É nessas horas que não é legal ajudar na biblioteca... - Estava tudo escuro e eu estava ficando assustada. - Que medo! Eu vou é voltar correndo para casa.

Saí em disparada quando esbarrei em alguém.

- Aii, ai, ai, ai - essa tinha doído e meus óculos caíram.


- Você está bem? - uma voz me perguntou.

Ai, que vergonha! Estou em cima da pessoa!

- Hã? Ah, sim, estou bem!

Quando fui levantar o rosto vi que havia um homem me encarando.

- MMMMMMEEEE DDESCULPA!

Jasper Whitlock! Ele vai me matar! Tão nova e já vou morrer. Nem terminei os estudos.

Ele colocou a mão no meu ombro. Ai, ele vai arrancar minha cabeça!

- Não se machucou mesmo?

Hã? Será que ele ia se comover?

- Os meus óculos... - comentei, sentindo falta deles.

- Hã? Seus óculos? Eles caíram? - Jasper perguntou. - É melhor procurarmos antes que...

CRECK!


Não gostei desse barulho. Estou com um mau pressentimento. Jasper acabou pisando nos meus óculos.

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- Xi...! Isso tá feio. - falou o senhor da loja de óculos e lentes de contato. - A armação também está danificada. E, infelizmente, estamos sem estoque de lentes prontas. Lamento, mas vai demorar uma semana para os óculos novos ficarem prontos.

Senti minha alma ir embora. E agora? Eu sou cega sem meus óculos! Como vou sobreviver sem eles? E sem óculos... Eu vou me sentir completamente pelada!!

- Me desculpe! - Jasper falou. - Foi pura falta de atenção minha. É tudo culpa minha, sinto muito.
Nossa, eu não esperava essa reação.

- Imagina! Não foi isso... Fui eu que estava correndo. E você até pagou meus óculos novos...

- Mas deve estar ruim para enxergar. Como vai ser?

- Bem, dá para enxergar mais ou menos. Só copiar as coisas da lousa é que vai ser impossível...

- Já sei! É só eu servir de olhos para você! Eu serei seus olhos por uma semana. Vou cuidar para que você assista às aulas e ande por aí sem tropeçar. Ficarei do seu lado, garantindo a sua segurança, até que seus óculos fiquem prontos. Deixa comigo!

COMO É QUE É? EU OUVI BEM?

- 2° Dia -

- Alice...Alice tá na hora. Acorde. SEU NAMORADO VEIO TE BUSCAR.

Namorado? Onde? Levantei assustada.

- Poxa... você podia ter contado pra mamãe sobre ele, nééé? E que vergonha fazê-lo esperar na porta, menina!

- Não! Não! Não! Não é nada disso!

- Ah, é? Que pena. Ele até que é bonitinho. Eu gostei dele, viu?

- Eu nem sei que cara ele tem... - nunca encarei ele. Nunca encaro ninguém.

O problema agora não é esse. Caramba. Eu não sei que ele viesse mesmo! E agora o que eu faço?

- Bom dia! - Jasper me cumprimentou.

- Bo... bom dia...

- É interessante acordar com uma missão a cumprir. Faz tempo que não acordo tão cedo. - ele riu.

Parecia uma criança.

E agora? Só de estar ali, ele chama a atenção. Andar com ele significa que eu também vou chamar a atenção. As pessoas vão me ver, vão olhar para mim. VÃO OLHAR PARA MIM!

Como as pessoas conseguem conversar umas com as outras, olhando olho no olho? A gente nunca sabe o que o outro está pensando! Eu tenho medo. Não há como a gente adivinhar o que o outro está pensando de você. Vai saber o que as pessoas falam de você por trás? Eu não tenho coragem para levantar o rosto. Não quero me machucar mais.

- Eaêê, que milagre, Jasper! Andando com uma mina? - um cara com jeito de marginal veio falar com Jasper. - É namorada? Apresenta aí?

Me senti para baixo. Com certeza eles vão rir de mim.

- Nada disso. Vocês são má influência para a Alice. Sai pra lá.

- Qual é?

- Isso não se faz.

- Pô, e a amizade?

- Ah, cuidado com o degrau. - Jasper me segurou e me ajudou a subir os degraus que levam a sala.

Que medo. Os óculos eram uma proteção para mim. Preciso ficar de cabeça baixa, não quero que vejam o meu rosto.

Jasper abriu a porta para mim e eu pensei em fugir antes que todos os olhares viessem na minha direção.

- Alice, cuidado para não tropeçar na porta.

Ah, tarde demais. Todos estavam olhando para mim.

- Ali, o que foi aquilo? - Bella perguntou.

- Uh, estou passando mal com os olhares alheios. - estava suando frio e me sentindo enjoada.

- Servindo de olhos para você, é? Quem o imaginaria dando uma de cavalheiro... É a primeira vez que o vi sorrindo. Mas olho só, vou te confessar uma coisa, heim? To sentindo uma pitada de inveja!

Hã? Ninguém me entende. Elas não fazem idéia do sufoco pelo qual estou passando. Porque ele...

- Esse trecho. Alice leia para a sala. - o professor pediu.

- ALICE, É A PÁGINA 168, VIU? Jasper gritou. Eu não sabia onde enfiar minha cara.

Ele não tá nem aí com as pessoas ao redor! Eu não quero chamar a atenção! Eu não quero chamar a atenção.

- Algum problema? Por que me puxou aqui para conversar? - Jasper perguntou. Eu precisei chamar ele para uma conversa.

- Escuta. Sabe eu fico muito grata de você querer me ajudar, mas acho que eu estou bem... O resto eu posso pedir para as minhas amigas e elas podem me emprestar o caderno delas.

- Ah, imagina. Não gostaria que acontecesse algum acidente com você. Além disso, deve-se sempre ser gentil com as damas! - Jasper era gentileza pura.

- Hã? Mas... mas minha amiga mora perto de casa e não tem tanto perigo assim... - Que história de dama é essa?

- Ah, entendi. É ruim ter alguém como eu rondando à sua volta, né? - ele parecia meio triste.

Então, vou tentar não chamar a atenção. Mas quero que me deixe cumprir a promessa que fiz, tudo bem?

Não é isso. Eu não falei com essa intenção...

- Próximo! Página 130, Alice!

- EU LEIO, PROFESSOR! PODE DEIXAR QUE EU LEIO!! - Jasper gritou acenando. - PROFESSOR EU! EU!

- Ah, se faz tanta questão - o professor parecia assustado.

- Jasper, não adianta, você chama a atenção mesmo! - comentei enquanto ele me levava para casa.

- Hã? Sério? Fiz de novo? Eu nunca percebo essas coisas! Me desculpa! Amanhã eu prometo... - ele parecia envergonhado.

- Sabe, o que eu disse naquela hora não foi por sua causa não. - falei. Ele estava me ajudando e eu tratei ele mal.

- Então, por quê?

Eu não respondi. O Jasper não perguntou mais nada além disso. Parece que ele percebeu que eu tenho meus motivos. Eu morro quando as pessoas me julgam pela aparência, mas eu mesma havia julgado Jasper pela aparência dele. Ele era um rapaz gentil e educado muito mais do que parecia. Fiquei constrangida. Apertei os olhos para olhar discretamente para ele. E realmente, ele era bonito.

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- 3º dia -


Mesmo assim, por mais gentil que fosse a pessoa, tirando uma pequena minoria de amigas, eu sentia um grande pavor em confiar nos outros. O fato de não ser bonita dominava completamente a minha personalidade. Pelas pessoas que eram bonitas, inteligentes e, ainda por cima, gentis, eu sentia complexo e inveja. Ficava boba com algumas outras que não eram tão bonitas, mas tinham cara-de-pau. Por aquelas que eram feias, mas cativavam os outros pela personalidade, chegava a sentir admiração.

Beleza. O problema sempre foi à beleza, Era como se tudo em mim resumia-se nesse rosto que eu tenho. Eu sabia que isso estava errado em mim, mas não conseguia mudar Jasper era muito gentil comigo, mas e se, no fundo, ele me achava feia? Esse pensamento me consumia.

- Jasper, não precisa vigiar a Alice até na sala de aula. Ela tá com a gente! - Rose disse.

Jasper ficava ao meu lado até na hora de comer. O dia estava sendo mais tranquilo, já que ninguém comentava mais.

- Nada disso. Eu não consigo imaginar ficar sem me preocupar, deixando uma dama numa situação desconfortável.

- Dama? Que senso de responsabilidade. Eu achei que você fosse um cara barra pesada, mas não tem nada haver, né? Até que você é simpático. - Rose falou.

- Eu sou um cavalheiro. O meu ideal é i espírito dos cavaleiros medievais. - Jasper mordeu o pão que comia.

- Mas... E aqueles caras que andam com você?

- Eles que vem atrás de mim, achando que eu sou um deles.

- Mas de vez em quando você cheira a cigarro.

- Deve ser o incenso que queimo em casa. Eu sou budista.

- Ah, isso não cola, heim?

- Jasper, você é um sarro!

Apesar de toda a sua gentileza, eu não conseguia nem sequer bater um papo descontraído com ele. Até minhas amigas estavam mais amigas dele do que eu. Que triste.

- Ali, a gente precisa passar na sala dos professores. Vai indo na frente para a aula de laboratório. Jasper, você leva ela?


(Silêncio)


Viu como acaba o papo?

- Posso carregar para você? - Jasper realmente era um perfeito cavalheiro.

- Ah, não precisa. - fiquei sem graça. - Você é diferente mesmo, né Jasper? Geralmente os meninos não costumam ser tão gentis com as meninas.

- Hã? É mesmo? Eu não sou muito ligado no que os outros fazem, sabe? Essa coisa de senso comum.

- Você não liga para o que os outros pensam? Nem um pouquinho?

- Nem um pouquinho. - nessa hora eu levantei o rosto e encarei-o.

Oh! Essa não! Sem querer, olhei para ele! Tô me descuidando, porque não estou enxergando direito.

- Por causa do meu jeito de ser, os marginais da escola pensam que eu sou da laia deles, os professores ficam de olho em mim... Sou sempre prejudicado. Justo eu, o perfeito cavalheiro. - Jasper fez uma cara engraçada.

Mas tenho inveja disso. De não ligar para o que os outros pensam. Eu fico petrificada só de pensar. Se bem que eu acho que o Jasper só consegue ser tão despreocupado porque não tem problema com a aparência dele. Ser bonito traz tantos benefícios. Não consigo evitar pensar assim. Pensando bem, que garota deprimente eu sou.

- Você parece um tigre, Jasper.

- Um tigre?

- Os tigres são animais que vivem sozinhos. Os outros bichos precisam formar bandos para sobreviverem. O tigre consegue se virar sozinho. Ele é forte e destemido.

- Um tigre? Que legal! - ele começou a rir.

Acho que sinto admiração por ele. Por ser tão diferente de mim, uma covarde que só fica olhando para baixo para se esconder. Ah se eu conseguisse ser tão desencanada como ele... Como eu me sentiria livre. Um vento forte tirou os cabelos do meu rosto e trouxe a lembrança que eu vivia escondendo.


- Flashback –


“- Cara! Sabe a Alice? Disseram que ela gosta de você.

- Olha que dedicação. Ela te emprestou o caderno e tudo.

- Putz, mas não podia ser outra não? Ela é tão feia.

- Ha, ha, ha. Que sacanagem cara!"

- Fim do Flashback -



O peso dessa lembrança me fez desabar no chão e as lágrimas que eu contive por tanto tempo escaparam.

- Alice? O que foi? - Jasper perguntou. - Entrou alguma coisa no seu olho? - eu não conseguia responder. - Sabe, eu estava mesmo para te perguntar, por que você sempre esconde o rosto?- quando ele indagou isso começei a chorar mais ainda - Ah, mas se não quiser responder, não tem problema.

- Feia - sussurrei.

- Hã?

- Porque eu sou feia. Me chamaram de feia. Eu adoraria ser como você, mas não consigo. Não sou forte o suficiente para desencanar ouvindo uma coisa dessas.

Nesse instante Jasper pegou meu rosto entre suas mãos e me olhou intensamente.

- NÃO! - eu gritei assustada.

- Será? Eu não acho que você seja feia.

- Mas me chamaram, sim! Disseram que eu sou feia! Então, eu sou feia! Você olhou direito? Não vale mentir porque você é cavalheiro!

- Hum... É que eu fui educado por minha vó, que tinha mais de oitenta anos. Não tenho critérios para avaliar isso. - ele afagou minha cabeça com carinho. - Por isso você olha toda hora para baixo?

- É que todo mundo riu de mim. Ninguém estava nem aí comigo.

- Essas pessoas não eram cavalheiros de verdade. Ainda bem que você não se envolveu com um cafajeste desses. - ele sorriu.

- Foi como se dissessem que eu não tenho direito de estar viva. - as lágrimas não paravam de descer.

- Se alguém nessa história não tem o direito de estar viva seriam as pessoas que disseram isso a você. - Jasper me abraçou e aos poucos eu fui me acalmando.


Por que eu contei tudo para ele? Se eu havia escondido isso de todos até hoje? As palavras e as lágrimas tinham um poder inesperado. Foi como se todo aquele peso que eu escondia a sete chaves dentro de mim fosse lavado de dentro do meu coração. Me senti bem depois disso.

Aquele foi o meu primeiro amor. Prometi para mim mesma que jamais gostaria de outro alguém, para não ter que passar por aquele sofrimento de novo. Escondi meu rosto, disfarcei meu corpo e escolhi roupas que não chamassem a atenção. Achei que assim evitaria me machucar de novo. E eu estava certa, mas só então percebi. O fato é que eu jamais consegui ser feliz desse jeito.

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- 4° dia -


- Olha, olha Alice - Rose me chamou assim que cheguei na escola. - Tem uma promoção boa no shopping da estação. Achei essas presilhas lindas por um bom preço. Acabei comprando um monte.

- Uau! Que gracinhas! - aproximei as presilhas para enxergar.

- Escolhe uma pra você! –

- Sério? Tá podendo, heim? - escolhi a presilha de borboleta.

- Alice, me deixa por no seu cabelo? - Rose parecia encantada com a idéia de me mudar, mesmo que seja um pouco.

- Hã? - eu estava com vergonha.

- Deixa, vai?

- Ah... Bem... - Rose começou a mexer no meu cabelo.

De repente, comecei a pensar o que o Jasper estava fazendo naquela hora. E a curiosidade atiçou a vontade de olhar. Sem óculos, fica tudo embaçado, mas eu queria ver. Fazia tempo que não tinha coragem de olhar para o rosto das pessoas, mas a vontade de saber o que ele estava fazendo venceu nessa hora.

Jasper estava sorrindo para mim, com os olhos brilhando. Eu fiquei com muita vergonha e não consegui mais levantar o rosto, mas não por medo...

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- Jasper, você comeria se eu cozinhasse algo para você? - perguntei, caminhando com ele depois da aula.

- Hã?

- É que eu só vejo você comendo pão. Deve ser muito pouco para te sustentar! E seria uma forma de eu retribuir o que tem feio por mim.

- Ah, não! Não seja por isso! Eu não quero dar trabalho...

- Tudo bem. Preparar um ou dois dá na mesma.

- Não sei o que dizer. Na verdade, já faz um tempo que não como comida caseira, sabe...? É... Sim, ficaria muito feliz! - Jasper parecia constrangido, mas estranhamente contente.

- Faz tempo?
- Sim. Meus pais são muito ocupados e nunca estão em casa. Por isso, eu como no refeitório da escola ou compro comida nas lojas de conveniência. Já faz meio ano que vivo assim.

- Isso faz mal para saúde...

- Antes, quem cuidava de mim era a minha vó, mas ela morreu na primavera.

- Não sabia. Deve ser dureza, né?

- Como? Por quê? Eu não entendo bem dessas coisas. É que eu...

- “Não sou muito ligado no que os outros pensam." - falei e nós dois começamos a rir.

- Eu sou meio estranho, não é mesmo? Só descobri isso depois que me falaram. Deve ser porque convivi muito tempo com a minha avó. Mas foi bem. Pude aprender diversas coisas com uma grande expert da vida. Ela dizia que as pessoas vazias são aquelas que mais gostam de se meter na vida dos outros. Que gente que ouve muito a opinião alheia acaba desgostosa da vida. Que as respostas que você obtém passando por sofrimento são mais valiosas do que obedecer às palavras de 'gente importante’. Por isso eu... Ah, já chegamos à sua casa. - ele me olhou e depois andou alguns passos, até olhar para trás e acenar. - Bem, vou indo. Até segunda.

Senti que o domingo ia se tornar um dia longo e tedioso.


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- 6° dia -


- Jasper! Bom dia!

- Bom dia! Como está?

- Bem. Toma. O prometido. - entreguei a marmita para ele.

- UAU! Muito obrigado! AHHHH! Que saudades da comida caseira! - ele estava quase chorando de tanta felicidade.

- Mas tente comer sem mostrar para os outros, tá?

- Por quê?

- É que o conteúdo é igual ao meu. Se perceberem, vão falar da gente. Mais do que já falam.

- Será?

- Vão, sim.

- Por que será?

- Porque sim!

Jasper nunca ia entender isso, mas era divertido estar ao lado dele. O mais engraçado é que ele ficou feliz!

Estava andando em direção a biblioteca, para devolver o livro que eu peguei sozinha. A minha sorte foi ter feito amizade com ele sem os óculos. Assim, não me deixei levar pela sua aparência.

- Comer ao ar livre é muito bom! - ouvi um cara comentar. Sem a minha visão perfeita, desenvolvi uma audição aguçada.

- Quer dizer que o Jasper tá comendo da comidinha que sua namoradinha fez? Podia dar um pedaço pra gente, né?

- Namoradinha? Bem, ela é minha grande amiga...

- Mas cara, você não tem um gosto muito bom, né? Não querendo dizer nada, você não precisa ficar com uma mina daquelas. Você podia pegar coisa melhor.

Nesse instante, senti meu coração se despedaçar de novo, mas pelo barulho que se fez lá fora, percebi que Jasper havia brigado com o menino que falou isso. Olhei pela janela e consegui ver um vulto caído no chão.

- Não quero mais saber de vocês. - Jasper disse e continuou comendo.

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- 7° dia (último dia)


- Bom dia! - cumprimentei minhas amigas.

- Bom dia! - falou Bella.

- Oiiie, Alice! Jasper! - Rose sorriu. - Ali, você tá tão diferente...

- Né? Boa menina, boa menina. - disse Bella.

- Vocês acham? E isso é tudo graças ao meu amigo Jasper.

- Sim, sim, sim. - elas concordaram.

- Eu? Mas eu não me lembro de ter feito nada!

- E ele não percebe... - comentei.

- Pois é... - elas concordaram de novo.

E enfim. Chegou a hora da despedida.

- Ah, depois de uma semana estou enxergando! - falei, depois de colocar meus óculos.

- Eu estou aliviado por ter cumprido minha missão. Então... De novo, lamento o ocorrido. - Jasper parecia meio triste.

- Não foi nada. Obrigada por tudo. Vou cozinhar de novo para você.

- Obrigado. Nos vemos amanhã. - ele deu tchauzinho pra mim.

Tudo aconteceu em apenas uma semana. Mas foram dias muito mais proveitosos que meses e anos. Engraçado como ninguém mais me chamou de feia desde então. Se bem que isso não me incomodava mais. Hoje, dois meses depois, aqueles dias de sofrimento parecem mentira.

- Alice! - Jasper chamou. Estávamos saindo da escola e chovia muito. - Com licença, podia me dar uma carona?

- Lógico, vamos. - tantas coisas mudaram. Até eu mudei! Troquei meus óculos por lentes de contato.

Eu e Jasper continuamos bons amigos. Às vezes voltamos para a casa juntos. Na verdade, eu tenho uma paixão por ele, mas Jazz me parece tão alienado a essas coisas de namoro e amor que eu resolvi esperar a melhor hora para falar.

- Alice, aquela lasanha que você fez outro dia estava uma delícia!

- É mesmo? Posso fazer de novo para você.

- Eu também gostei da salada de frango desfiado e pepino.

- Trago isso também.

- Nada de cozinhar para outro homem, além de mim, heim?




The End


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