terça-feira, 26 de outubro de 2010



Pelo que me lembro, cometi dois grandes deslizes em minha vida, não os chamo de erros, pois geralmente os erros são ações que fazemos e nos arrependemos, mas não me arrependo das coisas que fiz, convivo perfeitamente com eles e não imagino a minha vida diferente do que é agora.

“Quem te viu quem te vê”, dizem os trouxas. Uma frase com bastante sentido quando direcionada a pessoa certa, mesmo com a pouca reflexão o sentido da frase é entendido facilmente. Sou um exemplo de que aquilo é a mais pura verdade, mesmo que aqueles que me conhecem desde a minha infância e adolescência não falem isso na minha cara.

Enchia o peito e meus lábios formavam um sorriso vitorioso sempre que erguia a manga de minha camisa, deixando visível aquela tatuagem negra em forma de cranio com uma serpente saindo de sua boca. Aqueles a quem eu chamava de amigos me davam apoio, mas quem não tinha seus objetivos voltados as artes das trevas como nós na época, a reação seria diferente ao ver a marca em meu braço: se afastaria a passos largos, os olhos arregalados mostrariam o medo que sentiam.

No começo, a idéia de matar e torturar, todos aqueles que eu odiava apenas para sentir prazer e diversão ao ouvir seus gritos desesperados e os soluços em meio a lágimas me agradava. Pensava em matar todos aqueles quem, de certa forma, eram importantes para a vida deles, apenas para vê-los entrar em uma forte depressão, implorando por sua morte.

Os gritos que eu arrancaria das cordas vocais de quem possuía meu ódio seriam o timbre dos instrumentos, os pedidos de uma morte ou uma salvação seria as letras das musicas; eu seria o maestro, quem comandava á todos no teatro que representava a Inglaterra ou, talvez, o resto do mundo também.

Eu sempre sonhei alto, tinha de admitir isso, e talvez foi por causa desses sonhos que a minha queda foi tão dura.

Havia algo errado com meus planos, eu não tinha o sangue frio o suficiente para lançar um Crucio em alguém, se o fazia, mal conseguia olhar a pessoa se contorcer no chão. Também não conseguia ver as pessoas morrerem, nem lentamente enquanto os seus olhos arregalados perdiam o brilho e o sangue escorria para fora de seu corpo e nem com um Avada; vê-los dar o ultimo suspiro e o ultimo olhar antes da morte me fazia pensar em qual seria a lembrança que eu levaria daquele mundo quando a minha alma deixasse meu corpo caminhando em direção das chamas ou da luz em meio ao azul do céu. Provavelmente, minha alma iria caminhar em encontro das chamas dançarinas e fumegantes e do cheiro de milhares de corpos apodrecidos, era essa a minha conclusão toda a vez que pensava no assunto.

Meu corpo foi enfraquecendo á medida que os meus objetivos fugiam de mim como um cachorro sarnento foge da carrocinha. Ao invés deles continuarem comigo, morderem à mim, se afastavam cada vez mais. Tentava me agarrar a eles novamente, mas caída de joelhos toda a vez que chegava perto, sentia o gosto amargo daquilo, mas não passava daquilo.

A pele abaixo de meus olhos ficavam cada vez mais escuras, decidi tentar mudar os meus objetivos, correr atrás de algo que não conseguiria era uma perda de tempo e energia, tive de admitir isso á mim mesmo. Logo, não tinha mais o meu objetivo inicial de matar e torturar, aquilo não melhoraria a minha vida em aspecto nenhum, não me faria mais rico e nem mais saudável, teria uma rápida recompensa para mim ao me livrar dos malditos, mas logo aquela sensação de dever cumprido seria esquecida pela a perseguição das pessoas atrás de justiça. Não tinha medo de ninguém e até hoje é isso, era apenas uma questão de mudar os objetivos de minha vida.

Juntar-me com o bruxo das trevas mais poderoso não considero como um erro, apenas uma faze ilusória de uma vida que pensei me tornar quase um Deus vivo. Mas foi nessa faze de minha vida que cometi o meu primeiro deslize.

Nunca me importei com ela, ás vezes, nem me lembrava que ela existia. Para mim, Luna Lovegood era tão importante quanto uma formiga; não me importava em nada se ela existia, estava viva, se nunca chegara a nascer ou morrera. Se alguma vez me lembrei de seu nome, fora porque ela andava com Potter.

Também não me importei nem um pouco se em Dezembro de 97 ela fora seqüestrada pelo os comensais e ficara na minha mansão até a época da páscoa. Liguei a mínima se ela estava sendo mal-tratada ou não, se ela estava com medo encolhida no porão ou não, e eu nunca havia sequer prestado atenção de como ela era fisicamente. Se me perguntasse na época como Luna era, eu não saberia nem responder se seu cabelo era loiro.

Por um motivo que não sei ao certo, em meio aquela correria em Hogwarts, ela me chamara a atenção. Não se destacava em meio a feitiços por ser a fonte daquele poder, não, pelo o contrario, estava caída no chão, inconsciente.

Sei que a segurei em meus braços, carregando-a para longe da batalha, mas não me lembro ao certo de como consegui carregá-la e, ao mesmo tempo, me desviar com tanta facilidade dos feitiços lançados contra mim. Ainda a envolvendo nos braços, sentei-me longe de tudo e todos, apenas com ela. Passei a mão de leve sobre um ferimento em sua testa, paravelmente uma pedra ou algo do gênero a acertara, fazendo perder a consciência. Tive vontade de protegê-la, não sei bem porque, mas quis a protegê-la de todo o mal que existia no mundo, mas devia mesmo era ter me afastado dela, afinal, e u era um mal, era comensal.

Os seus olhos foram abrindo devagar, as pálpebras um pouco tremulas. Eram azuis. Fora a primeira vez que percebi os olhos dela; eram de um azul bem profundo, mesmo que brilhassem com um certo desconcerto ao me ver, eu poderia ficar os admirando para o resto de minha vida.

Foi ai que cometi o meu primeiro deslize, enfraqueci perante dela, sentir-me rebaixado com ela, senti que queria ficar com ela para o resto de meus dias.

Minha pequena, era assim que a chamava e é assim que a chamo até hoje. Comecei a chamá-la dessa forma quando realmente vi que a nossa paixão nos levaria a algum lugar, quando vi que os olhos dela possuíam felicidade toda a fez que me via. Não a chamava de pequena apenas por sentir-me um gigante ao lado dela, mas também pelo o jeito inocente com que tratava as coisas. Eu ria toda a vez que ela comentava que os Weenkeys iriam dominar o mundo com a sua inteligência. Se eu fosse o antigo eu, teria preconceito dela, afinal, ás vezes as coisas que ela fala não tem muito sentido; mas aprendi a conviver com aquilo, cheguei a pensar algumas vezes que o que ela falava chegava a fazer sentido. Sendo verdade ou não, fazendo sentido ou não, já não vivo longe de suas historias.

Foi com ela que cometi o meu segundo deslize, deixei-me me agarrar a algo que eu não consigo largar, deixei-me amar, me tornei fraco novamente. Aquele bebê mudou minha vida novamente, assim como a mãe dele fez comigo. Recordo que desde o momento de sua gravidez, eu me senti outro, me renovei novamente. Meu toque quente na barriga de Luna o fez se mexer, nossos olhos brilharam com a vida que crescia no ventre dela.

Me sinto diferente perante eles, parece que ambos me controlam, mas sei que a única coisa que me controla é meu coração, já que nele eu não posso mandar e acho que nunca mandarei.

Sei que por mais que eu passe anos percorrendo esse mundo, meu passado e meus desejos antigos ainda estarão comigo, por mais que tente escondê-los eles permaneceram.

As pessoas mudam assim como os dias; pode ser uma mudança lenta como a evolução do homem ou rápida como a chama que consome uma casa banhada no álcool. Como característica, a mudança pode ser para melhor ou pior, depende de quem é o crítico. O amor muda um homem; se antes eu não queria ser aquele eu assassino e torturador, agora, com eles, menos ainda. Não quero ser quem eu era antes, ou talvez aquele Draco não queria retornar.



The End

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